quinta-feira, junho 14, 2007

Escolha o significado.





O MUNDO SE APÓIA NA GUERRA?
OU
A GUERRA SE APÓIA NO MUNDO?
[Escolha o significado]




*Apoiar V.t.i. Lt 1. dar apoio a; 2. firmar, encostar; 3. confirmar; 4. patrocinar, ajudar; 5.basear, fundar; 6. fundar-se, estribar-se na autoridade, ajuda, protecção de alguém; 7. encostar-se.

quarta-feira, maio 09, 2007



Nova Granada de Espanha

e as flores partindo o ar!

Pequenos Burgueses

D.E.M.O.R.A C.A.L.C.U.L.A.D.A

Depois eu volto!

domingo, março 04, 2007

Bancarrota IV

Só via meus pais em feriados, dias santos, desfiles militares, nas férias aonde íamos todos ao exterior e nas quartas e quintas aulas da sexta-feira. Passava o resto do meu tempo infernado dentro da escola tendo aula de um ou de outro professor militar, amigo do papai e o próprio ensinando francês. Era horrível seu sotaque puxado pelo “r” escarrado. A cada “r” mais um escarro. Tinha a impressão que sofria de tuberculose. E se bastasse ainda tinha as piadinhas dos meus colegas de classe.
Mas não há bandido que não veja pelo menos por uma vez o sol, lá fui eu concluir o 2º grau.
Mamãe morreu numa segunda-feira, de céu aberto onde todos demonstravam alguma felicidade, o câncer a alcançara e vencera sua frágil batalha. Era uma mulher excepcional. Que morrera assim que dei um beijo em sua testa já fria. Durante os anos de minha ignorância, cheguei a pensar que fora eu e aquele beijo que a matara. Sob o enterro não preciso detalhar. Umas centenas de pessoas foram dar-lhe o último adeus. Mas só eu fiquei ali até o vigia anunciar que estavam fechando o cemitério.
De lá para frente, bem... Entrei na faculdade de letras, meu pai se aposentou, meu irmão ficou sabendo que tinha cirrose crônica, sem antes não passar noites e mais noites na farra, chegar alcoolizado e acordar metade da vila militar; pra depois ganhar uma bolsa de estudos na França com um “jeitinho” do meu pai.
Um dia, na faculdade, assistia a uma aula onde todos riam do embaraço da monitora, menos eu... Vá, digamos que eu nem tanto. Assim é melhor. Eu estava apaixonado por ela. Ela era excepcional. Meu Deus, que mulher! Amor à primeira vista, entende? Não.
Compreendo.
Quando conheci Vírgilia, e uso esse nome falso porque nada melhor que relembrar Machado, eu estava pelo quarto ou quinto período. Já tinha saído com algumas garotas, mas não conseguira me apaixonar por nenhuma em especial. Em compensação sentia falta de ar e o coração bater quando encontrava minha monitora. Seria um típico caso de romance se não houvesse um problema: O namorado dela era meu professor de Teoria Literária.
E assim foi, a troca de olhares que não se respondiam e pairavam bem nos olhos do declamador de Camões a ponto de me esganar. Fazia de tudo para poder falar com ela, para dizer-lhe o que sentia, mas havia um montante de versos decassílabos na minha frente. E enquanto ensaiava algum um soneto, ele declamava em bom tom todo “Os Lusíadas”. Já não comia, pensava em versos, escrevia resenhas e agüentava a notas baixas. Não que fosse minha culpa, os heterônimos de minha vida conseguiam agüentar os estudos e Vírgilia. Mas o problema era o protótipo de poeta e professor - que tinha a matéria e a mulher para si - e que não me dava notas boas.
Se havia algo na faculdade que eu gostava eram os passeios que nós promovíamos. Íamos a tudo que é praia, passávamos o final de semana em casas de amigos. Foi justamente no período em que sai de casa, meu pai alugou pra mim um pequeno apartamento a algumas quadras da universidade, o velho também decidiu ir para uma casa de repouso. Não havia mais nada no exercito a ser feito e vivendo comigo, sem meu irmão e minha mãe ele não estava muito satisfeito em ficar parado, ou seja, o velho me botou pra fora.
Voltando ao passeio, eram nesses passeios que ficávamos até tarde falando baboseiras e bebendo altas misturas de cana. Num desses, Vírgilia foi e levou de encalço seu namorado. A tardezinha saíamos todos a praia onde ficávamos a contemplar o mar, e beber, beber tanto de não enxergar um palmo a nossa frente. Vírgilia escorrega no píer e cai dentro d’água, mas seu namorado nada pode fazer, nem se levantar. Está bêbado. Encontro ai a minha chance de mostra a ela que sou o homem de sua vida. Corro, a salvo e ela carinhosamente me beija... “Acorda, o mané, você não está vendo que ela está se afogando?” Eita... Corro desesperadamente, meu devaneio me deixa desfavorável em relação aos outros. Peraí! todo mundo está indo salvá-la?! Que safadeza é essa?! Eu gosto dela, entenderam? Ninguém ouviu. Corro, corro, corro. É minha chance de salvá-la. Pulo da borda para o mar. “Vou salvá-la, Vírgilia!” ainda tenho tempo para gritar. Vou direto para o mar, quer dizer, se não estivesse Vírgilia subindo, “Sai, Sai daí, Saiiii...” Puf! E caímos nós dois no mar. Mas, ‘Eu não sei nadar... Eu estou me afogando, meu Deus! Me salva, eu não sei nadar’. Quando abro os olhos, lá está Vírgilia a me beijar, bem quase é uma respiração boca-a-boca. “Seu tolinho, você queria se matar! Eu entendo que você fez isso pra me salvar, muito obrigada!” Esbocei um sorriso. Sentia os seios de Vírgilia sobre o meu corpo, tratei de pensar em outra coisa o mais rápido possível...
Se há algo que me dá raiva, é que me cutuquem. Negócio chato. Não aprovo, não me cutuquem por nada no mundo. Mas Vírgilia cutucando é outra coisa, que braços, delicados, ops! É áspero, e tem muito pêlo, nossa Vírgilia, não sabia que você era tão peluda assim... você já ouviu falar em depilação?

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Bancarrota III

Sempre quis aprender gaélico escocês, com tom imperioso na sonância e com sotaque, mas era taxado de excêntrico e arre! Como é difícil encontra um curso que ensine. Eu queria ser excêntrico, é sério! Mas nunca me deixaram ser, ai pensei em ser autista, autista por opção, e me cansei de ficar pensando nisso.
Da mesma maneira que fui católico, católico só não, espírita, simpatizante do budismo, do xintoísmo e todas as sagradas religiões dos ísmos. E me cansei. Cansei de ter um padre, um médium, uma monja como exemplos a serem seguidos. O que não me torna, necessariamente um ateu. A educação militar sempre me ensinara que fora meus pais, só devia servir a Deus e ao meu País. Na verdade eu nunca entendi bem qual a ordem desses três. Colocando o ponto nos is, eu fui obrigado a seguir os três segamente, como o “s” da última palavra.
E assim me virei, laconicamente falando, entre meus estudos e minha casa. A velha casa da rua Morgue, que nunca chegou a ser uma grande casa, mas que na minha adolescência era vigiada por uma guarnição da policia. Era ditadura militar, meus caros, com os tá-tá-tá-tá das armas do quartel ao lado e com a fobia a comunistas e tudo.
Nossas manhãs eram pães recheados de sangue de revolucionários idiotas que perdiam a vida em busca da liberdade. A liberdade que meu pai assim como aqueles de farda e charutos trouxeram. E para não comermos secos, ainda tínhamos o suco das ações de nosso querido e imortal presidente Médici, que morrera (por acaso do destino) e depois de nosso outro imortal Geisel. Ainda tinha torta de Jules Rimet e de barro amazônico. Como pude acreditar um dia nisso?
Mas existe uma explicação lógica para isso. As missas da minha infância eram rezadas em latim, só sabíamos o “Amém” ao final de cada oração. E assim, confiava piamente em tudo que se pregava e ponto final. Até que eu entendi que tudo o que acontecia não tinha uma lógica plausível, que eu pensava que existia em latim e eu nunca leria, pois não sabia a língua.
Logo, após os amigos do papai prenderem meu subversivo amigo, deixá-lo por terra, com uma cruz enfiada nela, bem acima da sua cabeça e outra na jugular - se pudesse definir onde era a cabeça ou onde era a jugular naquele corpo resumido a embrulho amassado - foi que eu vi onde estava, e o que fazia. E tentei mudar.
Mudar, eis uma palavra sempre utilizada nesses casos. Mudança. “Só conseguiremos mudar o mundo com revolução!” ou “Eu sou comunista pra exigir mudança!” ou “Tenho que mudar a sala, ela está velha, e com casas de aranha”. Essa ultima frase não tem muito haver, mas eu pretendia fazer um parágrafo longo.
Não que fosse por fim um comunista, me defino um socialista quieto e moderado que guardava a sete chaves o livro do grande timoneiro e do barbudo Marx ao invés de guardar com mais cuidado aquelas revistas de mulher pelada que trouxera dos Estados Unidos e que minha mãe escondera após a descoberta.
Um socialista... Comunista, não. A fobia me deixara traços. Comunistas comiam criancinhas ou eram homicidas em potencial. Não queria ser deportado pra Sibéria.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Bancarrota II

A campainha toca, mas novamente ninguém atende. Para que continuar com isso? “Mon amour”, “Mon coeur”, murmuro encostado à porta do apartamento. Tenho vontade de me abaixar e ver pela frecha da porta, mau olho, ela apaga a luz do vestíbulo. Como eu posso ser tão previsível! É claro que ela vai abrir quando eu sair, que vai pensar em me seguir, que vai descer pelo elevador enquanto eu desço a escada de emergência, que vai me alcançar no saguão. Pois bem, seja como for, sigo ao elevador, ainda escuto a maçaneta da porta abrir assim que o elevador chega ao andar. Ainda tenho tempo de vê-la desfigurado em lágrimas e melada de chocolate, como ela é emotiva. Entro no elevador e antes que ele feche coloco a cabeça pra fora: “Adieu”. E sem mais desço.
Falo francês fluentemente, meu pai é francês, um français de araque que roda le monde desde os dois anos de idade, e que se gabava com sua nacionalidade soltando frases poéticas em seu idioma natal quando reclamava comigo e com meu irmão. Talvez a única vaidade que tivesse em vida além daquela careca-espelho lustrada que minha mãe tirava sarro a suas costas. Sabe como é, ele era militar. Não um simples militar, mas um general exemple como ele mesmo se intitulava quando esquecia o nome da medalha que recebera do presidente Figueiredo.
A verdade é que papai só subiu porque meu avô deu uma mãozinha, aliás, uma mãozinha não, o braço inteiro. Queria ver papai um dia, a ponto de se aposentar lustrando armas num quartel de quinta. Ai sim, ele teria um infarto.
Ele só era um burocrata, burocrata no exercito, burocrata nas aulas que dava, assim como meu avô. A única diferença entre eles era que meu avô, talvez pelos cargos diplomáticos a que assumira sabia falar com os outros, negociar e até renunciar as suas decisões quando era preciso. Meu pai não. Sempre fora um bronco, um bronco dos mais gentis e galantes possíveis, eu devo ter tirado dele essa facilidade de seduzir as mulheres. Não que ele tivesse muitas, só as que minha mãe não sabia.Deixo o carro estacionado, pego um desses ônibus noturnos, a claridade já se deixa viver no horizonte, a orla começa a se encher de gente. E ai que adormeço.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Bancarrota I

Já deve passar das duas ou três da manhã, porque há poucas pessoas transitando, nada mais que alguns casais de namorados ou turistas, e poucos carros trafegam na via. O mar ventila o carro através da janela aberta, trazendo o enjoado cheiro de maresia. É muito tarde para voltar para casa ou para a casa de Alice. No mínimo, se tiver acordada, fingirá o contrário, sem antes, no entanto, não pensar que seria tolice o que estaria fazendo, mas ai já não é ela que tenciona ou não abrir a porta, sou eu que deixo de apertar a campainha.
Amanhã será um dia cheio no trabalho, e aqui estou eu, dirigindo sem destino, tentando a todo custo acender outro cigarro para acalmar os ânimos, e dividindo minhas mãos entre a direção do carro e a caixa de fósforos que o mar apaga. Conversando sozinho, dialogando com o vazio, ou melhor, com meu banco estofado e meu velocímetro.
Resolverei-me com Alice amanhã, é assim que acontece a três anos desde que começamos a namorar. Ela com vinte, e eu com quarenta anos. Hoje, aos quarenta e três, chego a me sentir mais novo que ela. Será que ela amadureceu por minha causa? Só lamento.
Não pretendo me ater a ela, amanhã de manhã no máximo, ela ligará, chamará para almoçar e eu irei como um profeta canalha que segue ao seu primeiro chamado. Ela estará com aquele vestido azul de cetim, o mesmo do dia em que a pedi em namoro. Porque as mulheres são tão sentimentais a ponto de se fixarem em objetos tão frívolos? E porque ela acha que eu gosto daquele vestido, é horrível. Mas sempre tenho que dizer coisas do tipo: “Ele cai muito bem em você”, ou “Nossa, amor, você cada vez mais bela nesse vestido” e ela, corando, agradece.
Pois bem, deixe como está, assim inicia minha depressão momentânea, com um cigarro na boca, olhando os quiosques fechados da beira-mar, fazendo rodas de fumaça, enquanto aguardo o sinal abrir. A partir daqui, sem sono, salvo alguns bocejos, fico a imaginar o que farei amanhã.Não irei à faculdade para dar aula. Tampouco irei visitar o papai. Ele não consegue me identificar mais. Pobre pai sonhava que seu filho passasse a uma função maior da que ele fora, e o filho rebelde imitara não só a sua profissão, como acabara por roubar seu emprego. Devia ter tido um infarto, mas o vinho não deixou, e ele fica lá utilizando seu velho tempo com resmungos em francês arcaico, que leva os enfermeiros sem cultura ao desespero.

sábado, janeiro 27, 2007


- Rapaz a mulher mais linda é a loira!
- Nada pô, ninguém perde para a oriental!